Acordo Mercosul Ásia

Vão-se os anéis e ficam os dedos
Por Gil Reis – Consultor em Agronegócio
Que tal indagar: o que é mais importante, os dedos ou os anéis? Toda a argumentação deste artigo é baseada nesta pergunta. O Uol publicou esta semana um artigo assinado por Jamil Chade, sob o título “Por Amazônia, deputados europeus bloqueiam acordo com Brasil” que me permito transcrever parte do texto.
“O acordo, negociado durante 20 anos, foi fechado em 2019. Mas, para entrar em vigor, o Parlamento Europeu e todos os demais parlamentos nacionais precisam ratificá-lo.
Agora, porém, parlamentares europeus aproveitaram a aprovação de uma nova estratégia agrícola em Bruxelas para apresentar uma emenda ao texto do informe que estava sendo discutido. Na emenda, os deputados incluíram um texto que trata especificamente do acordo com o Mercosul.
Liderado pelo bloco ecologista, a emenda aponta que o Parlamento “enfatiza que o acordo Mercosul-UE não pode ser ratificado da forma que está já que, inter alia, não garante a proteção de biodiversidade, em especial na Amazônia, nem garante padrões agrícolas”.
452 deputados votaram a favor da emenda, 170 contras e houve 76 abstenções. ”
Sob pena de me tornar repetitivo volto a citar o que disse, em uma entrevista nos idos de 1987, Maurice Guernier o todo poderoso secretário do clube de Roma: “a nossa arma para o poder é a ecologia”. Poucos perceberam que daí para a frente tal frase passou a conduzir as ações de todos que almejam o poder. Nascia o que denomino hoje de “ambientalismo desvairado”. A partir daí a ecologia caminhou a passos lentos através dos anos, adquirindo maior velocidade na medida que “devorava” simpatizantes, até chegar no atual século dominando o chamado mundo ocidental, da mesma forma que as pragas não controladas por defensivos devoram as lavouras. O trabalho dos ecologistas, hoje ambientalistas, com a plataforma de salvação do planeta é incutir nas cabeças de todos que a maior desgraça do nosso planetinha é a humanidade.
Ouço todos os dias a frase – a imagem do Brasil, no exterior, é péssima, todavia poucos se dão ao trabalho de investigar onde foi criada a imagem danosa do Brasil e do nosso Agro. Pasmem os leitores, tais imagens foram construídas aqui mesmo em nosso país e exportadas. Caso alguém duvide basta ler o noticiário, os artigos e as declarações de artistas, professores e colaboracionistas nos últimos anos. Todos esquecem que vivemos tempos de globalização e tudo que se publica passa a fazer parte da “rede global de informações”. Caso queiramos alterar a nossa imagem o trabalho teria que começar internamente usando todos os argumentos que iriamos usar lá fora, para combater os mal-intencionados e irresponsáveis que nos denigrem sem ter a sensibilidade que estão prejudicando o nosso país e seu povo.
Voltemos ao Acordo Mercosul União Europeia, é preciso observar o que recentemente o que afirmou um amigo em relação ao acordo e as restrições que a UE está nos impondo:
“Estamos pressionando pela ratificação do acordo Mercosul-UE e corremos o risco de ver ratificado o acordo sem ganhos concretos para o Brasil por conta dessas medidas protecionistas. ”
Enquanto isso precisamos nos dar conta do que vem ocorrendo fora do mundo ocidental, vale ler o trecho de uma notícia publicada pela revista Exame em 17/11/2020.
“A China e outros 14 países da região do Pacífico asiático fecharam neste domingo, 15, o que é até agora o maior acordo comercial do mundo. O acordo de livre comércio foi batizado de Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP na sigla em inglês). O bloco comercial abrange um mercado de 2,2 bilhões de pessoas e 26 trilhões de dólares, ou um terço do PIB global.
Ainda deve demorar anos para que a aliança altere amplamente o comércio global, e parte dos signatários também já tinha acordos entre si. Mas o simbolismo do tratado é grande, sobretudo na guerra comercial entre Estados Unidos e China”.
É chegado o momento de seguir o exemplo dos EUA que criou o conceito de “sonho americano” e criarmos o “sonho brasileiro”. Começaríamos com maior apoio às nossas empresas privadas, as verdadeiras geradoras de empregos, criadoras de riquezas e distribuidoras de renda para reduzir drasticamente a pobreza no nosso país. Faríamos isto com investimentos públicos e legislação adequada abandonando a ideia de matar as “galinhas dos ovos de ouro” com pesados tributos e legislações intervencionistas.
Paralelamente deveríamos deixar de “choramingar” aos pés do mundo ocidental e buscarmos o mundo novo que se descortina – a Ásia. Por favor, não repitamos o erro de algumas estrofes de uma canção antiga composta por Raul Sampaio:
Quem eu quero não me quer
Quem me quer mandei embora
Pois é, em sendo o Brasil o líder do Mercosul porque não começarmos esquecendo o Acordo Mercosul União Europeia e começarmos a trabalhar no Acordo Mercosul Ásia?
Tenho absoluta certeza que alguns se sentirão extremamente tentados em me apedrejar pela proposta deste artigo e, de antemão, advirto que apedrejamentos não alteram o atual momento no qual mundo ocidental tenta nos expurgar do geocomércio travando o nosso desenvolvimento.