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Comando e controle

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Alguns pensam que todos os homens são mortais, exceto eles mesmos – Edward Young

Por- Gil Reis consultor em Agronegócio.

Uma escuridão terrível abateu-se sobre nós, mas não podemos nos render. É preciso erguer bem alto as lâmpadas de nossa coragem e encontrar o caminho que nos conduzirá pela noite em direção ao amanhã – Membro anônimo da Resistencia francesa, 1943.

As citações de abertura deste artigo estão diretamente vinculadas ao seu título ‘Comando e controle’, a primeira de autoria de Edward Young, poeta inglês (1863-1765) – “Alguns pensam que todos os homens são mortais, exceto eles mesmos”, na minha humilde opinião o atual Presidente americano Joe Biden se enquadra perfeitamente nesta citação, que representa egocentrismo extremo e o desejo de comandar e controlar a geopolítica sem medir consequências.

Quanto à segunda citação de um anônimo da Resistencia francesa pode caracterizar o pensamento de todos os países que estão sendo esmagados com a tentativa de comando e controle do atual governante dos EUA ‘et caterva’ com várias finalidades, entre elas se redimir da desastrosa saída do Afeganistão, a volta dos EUA como protagonista da geopolítica e consolidação de prestígio na busca da reeleição.

O Brasil que sempre buscou a reaproximação com os EUA, de forma independente sem misturar ‘alho com bugalhos’, para restaurar amizade histórica tem sofrido bastante com a tentativa clara e sem disfarces de comando e controle do governante americano, que tem procurado atrapalhar as ações destinadas a proteger os demais relacionamentos tão necessários na caminhada em direção ao desenvolvimento.

Antes de prosseguir preciso advertir ao leitor que não desgosto dos EUA, país que estive quase uma vintena de vezes tanto a serviço quanto lazer, ou do povo americano, o que combato aqui é a postura do seu atual governante. Paralelamente, por favor, não pensem que a minha posição é partidária uma vez que já deixei bem claro que meus artigos são voltados para a defesa do Brasil, da Amazônia e do agro sem qualquer envolvimento com as ‘questiúnculas” de políticas graves e sim com a defesa da nossa soberania enquanto país.

Para um melhor esclarecimento transcrevo trechos do artigo “EUA vetam tentativa do Brasil de condenar sanções contra Rússia” publicado em 13/05/2022, de autoria de Jamil Chade, onde o colunista descreve de maneira honesta, com sua opinião, reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

“O governo americano de Joe Biden se recusou a aceitar uma proposta do governo brasileiro para modificar uma resolução na ONU (Organização das Nações Unidas) que apontaria para o impacto negativo das sanções contra a Rússia para o abastecimento de alimentos no mundo. Nesta semana, o Conselho de Direitos Humanos da ONU se reuniu em caráter de emergência para examinar a crise ucraniana. A resolução que acabou sendo aprovada, inclusive com o voto do Brasil, dá um mandato para a comissão de inquérito investigar atrocidades registradas nas periferias de Kiev e de outras cidades ucranianas.

Mas, alvo de intensa negociação, o texto também tratou do impacto do conflito para o abastecimento de alimentos do mundo. O problema, segundo o governo brasileiro, é que a abordagem dada pelos autores europeus da proposta citava apenas uma parcela do problema: a interrupção da produção e exportação agrícola da Ucrânia por conta da operação militar. Nenhuma referência era feita ao embargo imposto por potências ocidentais contra bancos e o comércio russo. O texto indicava que insegurança alimentar mundial ocorria “à luz dos impedimentos às exportações agrícolas da Ucrânia como resultado do bloqueio de seus portos marítimos e da destruição da infraestrutura crítica relevante.

Para o Brasil, porém, o rascunho da resolução estaria desequilibrado e enviesado se tratasse do problema de abastecimento apenas pelo ponto de vista da guerra. Para o Itamaraty, as sanções do Ocidente contra a Rússia afetam o abastecimento de alimentos e de fertilizantes de uma maneira tão profunda quanto a incapacidade de exportação de grãos ucranianos,

O governo americano, porém, se recusou a aceitar um texto que tratasse tanto da guerra como das sanções. O Brasil ainda chegou a propor que a frase inteira fosse eliminada, o que tampouco foi aceito pelos autores da proposta. No final, o texto original foi mantido. Ao votar, a delegação brasileira pediu a palavra e, publicamente, “lamentou” o fato de que suas sugestões não foram incorporadas.

Para diplomatas, a falta de entendimento entre Brasil e EUA e a decisão do Itamaraty de se queixar em público nesta semana que não foi atendido foram elementos que revelaram como os dois grandes países das Américas hoje sofrem para encontrar pontos de convergência, principalmente na questão da guerra. A coluna apurou que, a cada voto sobre a Rússia nos organismos internacionais, o governo brasileiro tem sido alvo de intensa pressão por parte de americanos e europeus para adotar uma postura mais próxima ao bloco ocidental.

Mas o Itamaraty está comprometido em evitar um “cancelamento diplomático” da Rússia e mantém um certo nível de diálogo com Moscou. Tanto por interesse próprio para assegurar um abastecimento de fertilizantes, como para um posicionamento mais construtivo para salvar o sistema da ONU. De fato, o cancelamento de Moscou do sistema internacional do comércio teria um peso elevado para alguns países. Enquanto a Rússia e a Ucrânia representam uma parte relativamente pequena do comércio mundial e da produção, em uma nota técnica publicada em abril, a OMC indicou que os dois países são “importantes fornecedores de produtos essenciais, notadamente alimentos e energia.”

Naturalmente a postura do Brasil em destacar que todo o impacto na cadeia alimentar mundial não se prende unicamente ao conflito armado está correta, as sanções contra a Rússia impactam muito mais a cadeia alimentar, superando os efeitos da guerra. Fico imaginando o que teria ocorrido no mundo se os EUA tivessem sido sancionados nas guerras que iniciou ao redor do planeta.

Creio que o artigo do colunista descreve perfeitamente mais uma tentativa de comando e controle, de forma indisfarçada, nas decisões do nosso país em sua política externa com efeitos na política interna e na nossa produção agropecuária. Assim só nos resta parafrasear “É preciso erguer bem alto as lâmpadas de nossa coragem e encontrar o caminho que nos conduzirá pela noite em direção ao amanhã”.

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