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Crise de energia na China e na Índia faz aumentar receio de desaceleração global, alerta Financial Times

Crise de energia na China e na Índia faz aumentar receio de desaceleração global, alerta Financial Times

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A grave crise de energia na China e na Índia, os dois principais motores do crescimento mundial na atualidade, lançam uma sombra sobre as perspectivas econômicas para a Ásia, além de elevaram o risco de que pressões inflacionárias reverberem pelo continente.

Vários importantes economistas especializados em China projetam uma desaceleração considerável da segunda maior economia do mundo nos próximos meses, em razão do impacto da falta de energia na produção industrial e do enfraquecimento do mercado imobiliário.

“Reduzimos nossas previsões de crescimento da China de 5% para 3,60% [no 4º trimestre] e de 5,80% para 5,40% em 2022”, disse Louis Kuiis, chefe de assuntos econômicos na Ásia da Oxford Economics. “[E] isso apesar de nossa expectativa de alterações na política econômica [no 4º trimestre] para incentivar o crescimento.”

Andrew Batson, diretor da firma de análises Gavekal, disse que o “crescimento na China se desacelerará nos próximos meses, em vista do aprofundamento do retrocesso [no setor] imobiliário e da disseminação da falta de energia”. Ele ressalta, no entanto, que a força das exportações e a solidez dos investimentos em bens de capital trarão certo impulso à economia.

Miao Ouyang e Helen Qiao, do Bank of America, disseram que a China teve um solavanco na produção industrial em setembro em função da forte redução de atividade em indústrias de alto consumo de energia. Eles também preveem impacto na expansão do Produto Interno Bruto (PIB).

As estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam para este ano uma expansão de 8,10% da economia que há vários anos é a que mais contribui para o crescimento do PIB mundial. Enquanto isso, a Índia deve crescer 9,50%, segundo o FMI.

Em estimativas de longo prazo divulgadas antes da pandemia do Covid-19, o fundo calculou que entre 2019 e 2024, a China colaboraria com 28% do crescimento do PIB mundial e a Índia, com 15%. Os Estados Unidos seriam apenas o terceiro mais importante motor da expansão global.

A Índia também vem sendo atingida por uma grave escassez de carvão, crucial para gerar a eletricidade que sustenta seu crescimento. Em 3 de outubro, as 135 usinas termelétricas do país tinham estoques de carvão para apenas quatro dias, em comparação aos 13 dias em 1º de agosto, segundo o Ministério de Energia.

O governo indiano destacou que as remessas de carvão da estatal Coal India vêm aumentando após atrasos provocados pelas chuvas de monções.

Economistas advertiram que cortes generalizados de energia podem prejudicar o crescimento justo quando a produção industrial da Índia, enfim, volta aos níveis pré-pandemia, que não se viam desde fevereiro de 2020. O país também se prepara para sua temporada anual de festivais, quando a demanda por energia tem forte aumento.

“Não é uma situação muito feliz”, disse Sunil Kumar Sinha, que trabalha na firma India Ratings & Research no cargo de economista principal. “Depois da segunda onda da covid-19, a economia começou a se normalizar e o crescimento está se acelerando […] Se a esta altura o país for atingido por uma escassez de energia, temo que isso terá um impacto muito significativo no crescimento.”

Cerca de 66% da produção total de eletricidade da Índia vem de usinas termelétricas a carvão, acima do patamar em 2019, de 62%. A geração hidrelétrica, a gás e nuclear diminuiu, afetada por chuvas de monções erráticas, preços mais altos e trabalhos de manutenção em usinas atômicas.

A menos que o governo consiga alocar de forma eficiente as limitadas reservas de carvão, Sinha disse que a Índia pode enfrentar problemas semelhantes aos da China, onde indústrias se viram obrigadas a fechar ou a recorrer a alternativas mais caras, como suas usinas geradoras próprias.

As causas da escassez de energia na China indicam que uma solução rápida é improvável. Alicia García Herrero, economista-chefe para a região da Ásia-Pacífico no banco Natixis, atribuiu a crise a um “baque triplo”.

Em primeiro lugar, os governos locais correm para cumprir as metas de emissão de Pequim e, portanto, precisam restringir a geração de energia a carvão. Em segundo, há uma escassez na disponibilidade de carvão, uma vez que o país faz a transição para energias renováveis. Por fim, os tetos ao preço da eletricidade fazem com que a demanda não seja afetada pelo aumento dos custos do carvão e de outros insumos.

Tudo isso vem exercendo uma pressão imensa sobre Pequim para liberar os preços da eletricidade, mas isso agravaria perspectivas inflacionárias.

“O erro na dose da política [energética] fez com que muitos produtores de energia fechassem para evitar perdas financeiras”, disse Michael Gill, diretor para a Ásia na firma de consultoria Dragoman. “A liberdade [de variação] dos preços deveria solucionar isso.”

A China parece estar adotando uma abordagem gradual de aumento dos preços da energia. Na província de Guangdong, por exemplo, as autoridades aplicaram um aumento de 25% nos preços da eletricidade neste mês, mas o impuseram apenas nos horários de pico e apenas aos usuários industriais, poupando assim as famílias. Algumas outras províncias podem seguir o exemplo, segundo analistas.

Essa abordagem almeja amortecer a inflação dos preços ao consumidor, mesmo diante da disparada nos preços dos produtores, como os de carvão, metais e outras commodities. O índice de preços dos produtores na China saltou 9,50% em agosto e os economistas do Bank of America estimam um aumento ainda maior, de 10,50%, no mês de setembro.

Em contraste, o índice de preços ao consumidor subiu apenas 0,80% em agosto e o Bank of America calcula que pode recuar para 0,60% em setembro.

A batalha contra o aumento dos preços é crucial. Se as pressões inflacionárias saírem do controle, Pequim pode ser obrigada adotar uma política monetária mais restritiva, impactando ainda mais as perspectivas de crescimento dos próximos meses.

Também haverá consequências para o restante do mundo. “A escassez de energia na China tem implicações globais”, disse Ting Lu, economista-chefe para a China no grupo de serviços financeiros Nomura.

“Os mercados globais sentirão o impacto da escassez na oferta [de bens que vão] desde têxteis e brinquedos a peças de maquinário, […] [que] muito provavelmente resultará em falta de produtos para o Dia de Ação de Graças e o Natal.”  (por Financial Times).

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