Drama europeu

A Holanda reduzirá seu “enorme” rebanho bovino
Por Gil Reis – Consultor em Agronegócio
Enquanto os líderes e os parlamentares europeus movem, sob o comando dos ecologistas travestidos de ambientalistas, uma campanha descomunal e incoerente contra os países produtores de alimentos, usando como argumento a salvação do planeta com a finalidade de, pura e simplesmente, manter a liderança e o protagonismo no geocomércio, descurando de seu próprio continente, os fatos – nada mais que os fatos – demonstram que eles próprios não conseguem cumprir as regras que tentam estabelecer para o mundo, levando algumas nações incautas a tentar cumpri-las às custas de seus povos.
Não pretendo discorrer novamente sobre os dramas que a UE vem vivendo em função de uma política de ambientalismo desvairado, que tenta impor ao resto do mundo. O crescimento vertiginoso das tarifas de energia elétrica e a elevação dos preços dos alimentos, decorrentes do aumento do custo da produção, estão aí para comprovar. A crise está tão grande que os europeus estão retornando ao uso de geração de energia com combustíveis fosseis e liberando o uso de defensivos antes execrados.
O drama da UE que abordarei é a pecuária. Matéria publicada no dia 6/3/2020 pelo Canal Rural, sob o título, “UE: rebanho bovino deve cair para 85,7 mi de cabeças em 2020, diz USDA”, reforça a previsão de tal drama:
“O rebanho bovino da União Europeia deve chegar ao final da temporada 2020 com um recorde negativo de 85,7 milhões de cabeças, contra 86,594 milhões de cabeças de 2019. A estimativa parte de relatório do adido do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A produção de carne bovina em 2020 deve chegar a 7,810 milhões de toneladas, contra 7,9 milhões de toneladas em 2019. O consumo humano na União Europeia é indicado em 7,840 milhões de toneladas em 2020, contra 7,911 milhões de toneladas de 2019”.
Todavia o drama continua crescendo, como nos dá conta Stephane Foucart, na edição de 17 de outubro do jornal Le Monde, sob o título “Algas verdes: “Você não consegue se livrar do nitrogênio. Persiga-o pela porta, ele volta pela janela”:
“Um grande produtor europeu de carne, a Holanda está desmoronando sob o excremento do gado e planeja reduzir o rebanho nacional em um terço. A “crise do nitrogênio” que vive o país lembra a que vive a Bretanha com as algas verdes.
A informação passou relativamente despercebida na França, mas poderia ser relevante lá no debate público. No início de setembro, as autoridades holandesas propuseram um plano drástico para reduzir a poluição de seus cursos de água por nitratos. Num país tão fortemente apegado ao liberalismo econômico e tão orgulhoso da sua indústria agroalimentar, o projecto surpreende pela sua verticalidade e escala: consiste em reduzir para um terço a pecuária do país, um dos maiores produtores europeus de produtos de origem animal. Uma das formas de implementá-lo é a compra pelo Estado e, em seguida, o desmantelamento de grandes fazendas intensivas.
A natureza radical do projeto é compatível com a escala do que a mídia na Holanda às vezes qualifica como uma “crise de nitrogênio” resultante dos efluentes da pecuária. O nitrogênio (N) é esse elemento químico onipresente que pode assumir formas benignas, como o dinitrogênio (N 2), mas também formas problemáticas para a saúde e o meio ambiente. Os nitratos (NO 3), por exemplo, poluem as águas superficiais e contribuem para o fenômeno denominado de “eutrofização”, que está na origem da proliferação de algas verdes no litoral.
A Holanda é provavelmente um dos países do mundo onde a produção animal é mais racionalizada, mais densificada, mais tecnológica. Neste pequeno país de 41.500 quilômetros quadrados, quase 100 milhões de aves e 11 milhões de porcos são criados em prédios. Ao qual devem ser adicionados 1,5 milhão de ovinos e caprinos, além de 3,8 milhões de bovinos. Até onde pode continuar essa concentração vertiginosa de animais? O projeto holandês, ainda em discussão, nos traz de volta a esta realidade implacável: um rebanho não pode crescer indefinidamente em um território finito. O país está desmoronando sob o excremento de seu gado. E para baixar os níveis de nitrato em seus rios, as autoridades holandesas parecem resolver tomar uma decisão na força de trabalho de um de seus carros-chefe industriais.”
Fica bem claro que um Código Florestal semelhante ao nosso, que protege os mananciais e rios, evitaria que Holanda chegasse a essa medida tão drástica que pretende implementar, apesar de o país ultramarino não possuir a nossa dimensão territorial. A decisão holandesa é mais um prego no caixão do ambientalismo europeu e da falta de visão do IPCC, da ONU. Trata-se de uma miopia de organismos vinculados a ela, como foi o lockdown aconselhado pela OMS, que continua em seu caminho de destruição da economia mundial. É preciso dar um stop nas ações da ONU, que ela se mantenha nos objetivos para os quais foi criada – a união com a consequente pacificação do mundo.
Paralelamente, os europeus se fazem de surdos-mudos ao que vem ocorrendo no Brasil, que está na vanguarda da preservação da natureza desde à época do Império. Como diz o amigo Luciano Vacari em seu artigo “O Coelho na Cartola”, publicado no site da NeoAgro Consultoria em 22/10/2021:
“A pauta da sustentabilidade parece não ter fim. E não tem mesmo, este é um processo que se iniciou há algum tempo e será contínuo em busca de propostas cada vez mais eficientes. E o Brasil, podem acreditar, é uma potência sustentável, sempre inovando com modelos de produção de alimentos, fibras e energia de baixo impacto ambiental. Neste caminho, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou o ABC+, uma revisão da política pública, denominada Plano ABC, que completou 10 anos e que foi um verdadeiro marco dentro da produção agropecuária brasileira. Essa atualização era uma das mais esperadas, especialmente por associações da indústria, organizações do terceiro setor, pesquisadores e outros. O grande diferencial do Plano ABC de outras propostas lançadas por diferentes instituições é a viabilidade técnica e econômica dos projetos.”
Pois é, enquanto a União Europeia se “esboroa” ao ingerir o seu próprio veneno, o Brasil desponta como uma liderança na preservação ambiental, com sua agropecuária sustentável e sua energia limpa, sem exageros ou extremismo. Um exemplo a ser seguido.