Embrapa desmistifica

A única forma de desmentir os maus brasileiros que alimentam a imagem distorcida do Brasil é com dados técnicos insuspeitos.
Por Gil Reis Consultor em Agronegócio
Engana-se totalmente quem acredita que as informações que circulam nos outros países são criadas por eles. A toda hora somos bombardeados por ‘fakes’ na grande mídia e nas redes sociais criados por maus brasileiros que não conhecem o Brasil e se deleitam criticando o seu próprio país criando enormes prejuízos a todos. Naturalmente as ONGs internacionais que ‘infectam’ o nosso território produzem informações e pesquisas distorcidas. Também é preciso entender que o sustento dessas ONGs somente virá se houver problemas no Brasil.
Somente há uma forma de desmentir e desmoralizar essa quadrilha é fazendo circular informações verdadeiras baseadas em dados técnicos de instituições sérias. Todos escutam falar diariamente no desmatamento da Amazônia. Não vou desmentir a informação do desmatamento, o que vou pôr em dúvida e lembrar a todos que os números divulgados carecem de qualificação e de maiores esclarecimentos. Vejamos alguns dados técnicos da Embrapa Territorial para que todos conheçam um pouco mais o pais que vivem e o setor que alimenta a todos – o agro. Dados publicados recentemente pela Embrapa Territorial:
“A dinâmica da vegetação nativa (fitodinâmica) é constante. Por exemplo, quase 30% das áreas mapeadas como desmatadas na Amazônia nos últimos 30-35 anos, hoje estão ocupadas de novo por vegetação nativa em diversos estágios de regeneração florestal, segundo os dados do Projeto TerraClass (Embrapa/INPE). O conhecimento científico da dinâmica espacial e temporal da ocupação e do uso das terras, em bases territoriais, é fundamental para qualificar e quantificar a contribuição do mundo rural na preservação da vegetação nativa no Brasil.
As vegetações nativas incluem uma profusão de formações florestais (só no bioma Amazônia, são mais de 20 tipos de florestas diferentes) e também não florestais (campos nativos, lavrados, cerrados, vegetações rupestres, lacustres, palustres e outras). Os biomas Pampa e Pantanal são constituídos, sobretudo, por vegetações não florestais. O mesmo ocorre majoritariamente no bioma Cerrado. E até no bioma Amazônia e Mata Atlântica existem áreas de vegetação não florestal (campos de altitude, lavrados, campo aberto de várzea, dunas…). Todo esse complexo precisa sempre ser mapeado e monitorado.
Mapear e conhecer a vegetação nativa no mundo rural brasileiro é um desafio permanente dada a dinâmica espacial, temporal e tecnológica da própria agropecuária brasileira. Esse desafio está no cerne da missão da Embrapa Territorial. Com o advento do Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651 de 2012), da exigência de registro dos imóveis rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e dos novos métodos de referenciamento geográfico dos estabelecimentos agropecuários aplicados pelo Censo Agropecuário do IBGE em 2017, novas perspectivas surgiram para ampliar o conhecimento sobre o papel do mundo rural na preservação da vegetação nativa.
As áreas dedicadas à preservação da floresta nativa pelo mundo rural brasileiro somam 282,8 milhões de hectares e representam 33,2% do território brasileiro. Os números vêm de um novo estudo feito pela Embrapa Territorial, com o geoprocessamento dos dados do Censo Agropecuário 2017 e do Sistema Nacional do Cadastro Ambiental Rural (SiCAR), estes últimos atualizados em fevereiro de 2021. Os materiais e métodos utilizados no trabalho e o detalhamento de números e mapas em nível de município, microrregião, estados e biomas estão disponíveis ao acesso público no site da Embrapa Territorial.
Desde 2016, a Embrapa Territorial desenvolve e aprimora métodos para quantificar o papel da agropecuária na preservação da vegetação nativa, em áreas de preservação, reserva legal e de vegetação excedente. Os estudos têm como base o geoprocessamento dos dados válidos de cerca de 6 milhões de imóveis rurais registrados em imagens de satélites no CAR, uma exigência do Código Florestal Brasileiro.
No entanto, muitos imóveis ainda não se registraram no CAR. O último estudo da Embrapa Territorial utilizou os dados georreferenciados do Censo Agropecuário 2017 como um complemento para obter o volume de terras dedicadas à preservação nesses casos. O Censo Agropecuário do IBGE de 2017 incluiu as coordenadas geográficas dos estabelecimentos agropecuários visitados pelos recenseadores, bem como os trajetos por eles percorridos. “Dispor das coordenadas geográficas de milhões de estabelecimentos agropecuários permitiu identificar aqueles sem cadastro no CAR”, informa a Embrapa Territorial.
Com as médias de vegetação nativa levantadas pelo Censo do IBGE, a Embrapa Territorial estimou em 55.443.219 hectares as áreas dedicadas à preservação nos estabelecimentos agropecuários ainda não registrados no SiCAR. Isso equivale a 6,5% do território nacional. Já as áreas mapeadas pelos produtores no CAR de 2021, como dedicadas à vegetação nativa, chegam a 227.415.630 hectares ou 26,7% do Brasil. A soma desses dois números resulta em um terço do território brasileiro destinado à preservação pelo mundo rural, a maioria em terras privadas.
O cadastro no CAR exige acesso à internet, conhecimentos de geoprocessamento e suporte técnico. A análise da repartição espacial dos produtores não registrados no CAR pela Embrapa mostra sua concentração na Amazônia, no semiárido Nordestino e nos locais de agricultura familiar. A pesquisa indica, por município, o avanço da informação e da conexão no campo e os locais onde isso ainda não ocorreu. “No CAR é o produtor quem vai em direção ao Estado registrar seus dados. No Censo Agropecuário, é o Estado quem envia seus recenseadores em direção ao produtor, onde quer que ele esteja”, explica Evaristo de Miranda. O pesquisador acrescenta que “os novos métodos de integração por geoprocessamento dos dados do Censo Agropecuário com o CAR permitiram uma compreensão inédita da territorialidade da agricultura brasileira, de sua produção e de seus serviços ambientais”.
As informações divulgadas pela Embrapa Territorial nos tornam a todos melhores conhecedores do nosso país, desmistificando muitas falsidades veiculadas na grande mídia e nas redes sociais. Não acredito que possamos mudar as ‘cabeças feitas’ pelos maus brasileiros e pelas ONGs internacionais ao longo do tempo seja uma tarefa fácil. O número de brasileiros que conhecem o Brasil, a Amazônia e o agro interessados em levar a verdade técnica para todo o nosso país e para todos os rincões do planeta aumenta a cada dia. Temos pressa, pois, como diz o articulista Olavo Dutra – “o tempo só corre a favor dos vinhos”.