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Salto involutivo

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Estamos diante de um salto involutivo sem precedentes

Por Gil Reis – Consultor em Agronegócio

Mais uma vez sou obrigado a citar uma frase que já repeti em vários artigos: “nunca comece nada que não saiba como terminará”. Talvez alguns desavisados possam não entender o significado da frase – trata-se de planejamento. Tantas vezes assistimos ideias fantásticas e benéficas se transformarem em perniciosas por falta de planejamento. Este é o caso da globalização, todos foram com muita sede ao “pote”.

A ideia da globalização foi absorvida rapidamente e iniciou-se a criação de uma rede mundial de fornecimento com a realocação de empresas em vários países em busca de salários mais em conta, incentivos e localização mais favorável, além de outros fatores. Houve um esquecimento fatal, a maioria dos países do planeta possuem logística e infraestrutura frágeis ou são carentes delas, via de consequência a globalização passou a ter os mesmos problemas. Mesmo sem planejamento prévio a criatividade humana superaria, aos poucos, tais problemas em uma situação normal.

O que ninguém esperava era uma pandemia global em função do Covid19, novamente, a criatividade humana superaria este problema. No horizonte planetário, todavia, surgiu um complicador – o “lockdown total” recomendado pela OMS da ONU – que reprimiu drasticamente a demanda provocando o empobrecimento das nações e o início da “quebradeira econômica mundial”. Com a pandemia chegando ao fim e o “lockdown”, praticamente, abolido na mor parte dos países está ocorrendo a quebra das “amarras” e havendo um “boom” na demanda encontrando vários braços da rede de fornecimento extremamente afetados em razão justamente da fragilidade da logística e infraestrutura. Tudo isso complementado pelo “ambientalismo desvairado” estava formada a “tempestade perfeita”.

Na edição de sábado, 16/10/2021, da newsletter Meio foi publicada uma matéria sob o título “A globalização quebrou. Mas por quê?” que transcrevo partes do texto.

O meme circulou faz uma ou duas semanas no Reino Unido — o premiê Boris Johnson liga para a rainha Elizabeth II e pergunta, como quem não quer nada. “A senhora dirigiu caminhões durante a Guerra, não?” Elizabeth II trabalhou de fato, no esforço de Guerra, como mecânica de caminhões. E Johnson está desesperado atrás de motoristas para a frota — há, na Grã Bretanha, 100 mil vagas abertas com ninguém que deseje preenche-las. O governo abriu um programa de vistos temporários para atrair motoristas principalmente do Leste Europeu. Após duas semanas apareceram vinte candidatos. O resultado mais visível da crise são as longas filas de carros para abastecer nos postos de combustível. Derivados de petróleo estão em falta. Mas não é só lá. Em agosto havia 40 navios cargueiros na fila para descarregar no maior porto dos Estados Unidos, o de Los Angeles e Long Beach. Em setembro já eram 70. Agora em outubro os números pararam de ser divulgados. É pouco. No mar próximo dos portos de Hong Kong e de Shenzen, na China, a fila passa de cem navios. Nas contas do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, o setor deixou de exportar nos últimos meses US$ 500 milhões em grãos. Por falta de contêineres de navio. No Vietnã, o principal centro produtor de roupas do mundo, as fábricas fecharam em setembro após uma explosão de casos de Covid. A Apple anunciou que vão faltar iPhones 13 no Natal — não há peças para fabricar e atender à demanda.

Os motivos são muitos mas podem ser reduzidos a três. Um deles é que a globalização deu certo. Outro é a pandemia. O terceiro é que a infraestrutura do planeta não está preparada para uma economia que se digitaliza rapidamente. As três questões são independentes mas se correlacionam. Há uma tempestade perfeita em curso e as consequências são muitas. Em termos macroeconômicos está gerando inflação porque há pouca oferta e muita demanda. E a demanda não é só por produtos, é também por mão de obra que em muitas funções enfrenta escassez.”

Marcos Fava Neves publicou artigo no Jornal da USP, em 26/10/2020, sob o título “O quanto a crise de energia e escassez de insumos atrapalhará a safra?” que com a liberdade de sempre transcrevo trechos.

“Segundo o relatório do Banco Central do Brasil (Bacen) de 18 de outubro, a inflação deve fechar 2021 em 8,69% e voltar a patamares mais controlados de 4,18% em 2022. Assim, a Selic deve ser ajustada para controlar esse cenário, projetada em 8,25% no final deste ano e em 8,75% no próximo. Por sua vez, o PIB deve crescer 5,01% em 2021 e 1,50% em 2022, enquanto no câmbio espera-se R$ 5,25 em ambos os fechamentos.

No agro mundial e brasileiro, o índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) atingiu 130 pontos no mês de setembro, alta de 1,2% frente a agosto, alcançando seu maior patamar dos últimos dez anos. O crescimento no último mês foi impulsionado pelo aumento nos preços dos cereais em 2%, principalmente trigo e arroz; óleos vegetais em 1,7%; e leite em 1,5%. Diversos fatores inferem sobre esse comportamento, como a alta nos preços de petróleo (maior custo de produção e transporte de alimentos); a falta de mão de obra nos períodos de pandemia; a demanda aquecida com a retomada econômica; problemas na oferta, entre outros. Aglomeram-se os problemas.”

A análise feita pelo professor Marcos Fava Neves é perfeita e o artigo precisa ser lido por todos na íntegra. A única coisa que posso acrescentar é que o mundo dos transportes sofrerá um enorme colapso por falta de combustíveis e esclareço.

O que poucos perceberam é que a UE vem pressionando o setor bancário mundial a deixar de financiar a prospecção, exploração e extração das fontes de combustíveis fósseis. Parece que o bloco esqueceu que todos os transportes que utilizamos hoje são movidos a combustíveis fósseis e os veículos elétricos são movidos por eletricidade produzida, em grande parte, por geradoras alimentadas por combustíveis fosseis. Faltarão gasolina normal e de aviação, além do diesel e a eletricidade. Nesse mundo ficcional como se moverão os veículos, inclusive, aviões e navios?

Agora, abandonando o tema globalização vamos lembrar do nosso mercado interno. Sem combustíveis fosseis, basicamente petróleo, como faremos circular internamente o que produzimos?

Que o mundo se prepare, os veículos movidos por tração animal voltarão com toda força. O movimento ambientalista desvairado está nos levando por um caminho que fará com que a civilização como conhecemos hoje desapareça. Estamos diante de um “salto involutivo” sem precedentes.

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