
Santa ignorância
A ignorância não é pecado e sim tentar impô-la a outros
Por – Gil Reis consultor em Agronegócio.
Que me perdoem os ignorantes e os alienados, estou me referindo aos que ignoram ou se alienam sobre o mundo e a vida a sua volta. Este artigo não pretende ser um ‘tratado’ sobre a ignorância ou alienação voluntária. Dizem alguns que a ignorância traz felicidade, não porei em dúvida tal afirmativa uma vez que realmente traz muito sofrimento e preocupação ter conhecimento do está ocorrendo no mundo à nossa volta. O perigo é quando ignorantes criam conceitos e pregam inverdades sobre o que desconhecem ou ignoram dando opiniões descabidas sobre assuntos os quais não possuem quaisquer noções. Pelo menos os alienados se furtam de emitir opiniões.
Os ignorantes divulgam opiniões sem a mínima preocupação sobre quem vão atingir e os prejuízos que provocam. O assunto me faz lembrar de uma cena de filme onde u’a mãe afirma em defesa do filho – ‘meu filho não é idiota, idiota é quem faz idiotice’. Pois é não estou me referindo àqueles que ignoram assuntos e em razão disso não emitem qualquer opinião sem antes estuda-los, estes estão absolutamente corretos, ninguém é obrigado a saber tudo. Por exemplo, sou totalmente ignorante sobre ‘física quântica’ e no dia que quiser emitir opinião terei que estudar muito. Esta é uma postura completamente honesta, caso contrário seria desonesto.
Há muito percebi que boa parte do que o ocorre no mundo envolve desonestidade, não estou me referindo somente daquela desonestidade de furtar algumas moedas ou fazer corrupção, estou me referindo àquele pior tipo de desonestidade, a desonestidade de ‘princípios’. No Brasil o setor da economia que, a meu ver, mais sofre com esse tipo de desonestidade é o agro. As pessoas cometem tais desonestidades diante de alimentos à sua mesa que não tem a pálida ideia de como foram produzidos e apesar disso emitem opiniões desonestas contra a produção.
Sempre intui que não sofríamos sozinhos esse tipo de desonestidade, porém fiquei completa e totalmente espantado quando tomei conhecimento que pessoas que fazem campanha em defesa da natureza sequer a conhecem. Tomei ciência desse fato quando li o artigo de José Câmara, publicado pelo G1 em 12/04/2022 “Onça-pintada é ‘cancelada’ na internet por predar capivara, e biólogo diz: ‘perderam a noção da vida na natureza”, que transcrevo parte do texto:
“Em conversa com o g1, o biólogo Gustavo Figueirôa explicou que a cena é completamente normal e demostra a vida em natureza da forma que ela é. Após a divulgação de uma série de fotos que mostram uma onça-pintada predando uma capivara no Pantanal de Mato Grosso do Sul, feitas pelo estudante de biologia João Pedro Salgado, o felino foi ‘cancelado’ no Twitter por estar ‘almoçando’. A repercussão dos internautas chocou várias profissionais ligados à vida selvagem.
A publicação, feita por João Pedro Salgado nas redes sociais, dividiu opiniões. De um lado, alguns comentários debocharam da situação e compararam a situação com homicídios: ‘vou começar a postar fotos e vídeos de pessoas sendo mortas em assistentes [acidentes] e assassinadas’. Do outro lado, biólogos defenderam o registro feito por João Pedro Salgado, dizendo que as fotos mostram fielmente como a natureza é. Em conversa com o g1, o biólogo Gustavo Figueirôa explicou que a onça é um carnívoro estrito, que significa que o animal se alimenta apenas de carne.
‘Eu fico assustado, as pessoas não têm noção básica da natureza, aquela cena não tem nada de errado. Os animais estão no ambiente que elas deveriam estar. Os comentários das pessoas mostram que eles não têm noção de como funciona a natureza’, enfatizou o biólogo.
Tanto Figueirôa, como João Pedro Salgado, acreditam que a desinformação e o entendimento raso sobre a natureza geraram os comentários nas redes sociais. ‘A pessoa tenta vilanizar a situação, as coisas acontecem na natureza, não é como um quadro da casa da nossa vô, onde tem uma criança abraçada a um tigre. Na natureza é um morrendo para outro viver, lei da sobrevivência’, comenta Figueirôa.
Em outro post, um twiteiro escreve: ‘temos tecnologia o suficiente para produzir proteína vegetal e alimentar estes bichos, protegendo a vida de milhares de animais em extinção’. João esperava uma repercussão com a sequência de fotos, mas não tanta. O estudante de biologia fez o registro na primeira vez que veio ao Pantanal. ‘Acho que isso mostra o descolamentos da natureza que as pessoas estão no momento. Algo preocupante no meu ponto de vista, pois um dos lemas da conservação é ‘conhecer para preservar’, como vamos preservar algo que as pessoas estão demonstrando ao menos conhecer?’, questionou.
A preocupação de João, levantada através dos comentários, é compartilhada por Gustavo também: ‘primeiro fica o alerta de que as pessoas precisam de uma formação básica. Hoje as pessoas na internet têm muito juízo de valor, pessoas que não entendem o assunto e criticam o assunto’, detalhou o biólogo. Ambos acreditam que a grande repercussão também se deu pelo animal predado ser uma capivara. ‘Temos mais contato com a capivara, ela faz parte do dia a dia de muitas pessoas. A capivara é mais ‘fofinha’. A cena é forte e mostra a realidade, mas é como se fosse um jacaré ou outro animal sendo comido’.
‘Isso demonstra um comportamento preocupante de visão da natureza que algumas pessoas possuem. Os animais precisam ser animais, a cena não é cruel ou algo do tipo. A cena é simplesmente a vida em seu estado mais puro’, finalizou João Pedro Salgado.”
Ao ler o artigo o Advogado da área ambiental Rodrigo Justus emitiu a sua opinião:
“A matéria ficou muito boa! Mostra a insensatez daqueles urbanoides, que nunca viram sequer um esterco de boi ou um frango vivo ao vivo, nem pegaram um miquim ou carrapato na fazenda. Nosso sistema educacional, por omisso e politizado, criou uma geração que pensa que a vida no campo é um empório chique, livre da “perversa” cadeia alimentar, onde animais “desrespeitam” os mais fracos e os “assassinam” para comer, mesmo havendo frutas e pastagem nativa para de alimentarem…”
Outra coisa que me espantou foi a ignorância sobre a natureza dos administradores do ‘Twitter’ que cancelaram a postagem, não merecem a função que ocupam.
Depois de opiniões tão contundentes sobre o comportamento dos ‘ignorantes’ citados no artigo no G1, assinado por José Câmara, pouco me resta comentar. Encerro com um apelo – por favor um pouco mais de honestidade ao comentar sobre o agro e a natureza, evitem a desonestidade intelectual.