Home Artigos e Opiniões O Brasil não costuma seguir bons exemplos.

O Brasil não costuma seguir bons exemplos.

O Brasil não costuma seguir bons exemplos.
0
0

É um hábito antigo o nosso país seguir exemplos que não nos servem.

 

Por Gil Reis*

Entra governo, sai governo e durante toda a vida assistimos o nosso país seguir exemplos fracassados dos outros países, descartando exemplos de sucesso ou ‘fazendo pose’ para satisfazer países ‘falsos amigos’ na intenção de conquistar a simpatia. Os nossos governantes nunca conseguiram entender que no mundo não existe amizade entre países e sim interesses comuns. Não é preciso ir muito longe no passado, basta que o leitor analise os últimos 60 anos da nossa história. Somente tivemos sucessos quando agimos de forma independente. Um dos exemplos de sucesso que vale a pena citar foi a revolução da agricultura tropical.

O site Watts Up With That? Transcreveu o artigo “Fazendas que criam habitats essenciais para a segurança alimentar e a biodiversidade”, em 4/9/2023, uma publicação da Universidade de Stanford revisada por pares, que transcrevo trechos que nos dá a dimensão de nossos erros.

“Parece intuitivo que as florestas proporcionem um habitat melhor para a vida selvagem que vive nas florestas do que as quintas. No entanto, num dos estudos mais antigos sobre populações de vida selvagem tropical no mundo, os investigadores de Stanford descobriram que, ao longo de 18 anos, explorações agrícolas mais pequenas com vários tipos de culturas – intercaladas com manchas ou faixas de floresta – sustentam muitas populações de aves dependentes da floresta na Costa. Rica, mesmo com o declínio da população nas florestas.

Num artigo publicado em 4 de setembro no Proceedings of the National Academy of Sciences, Nicholas Hendershot e colegas compararam tendências em populações específicas de aves em três tipos de paisagem na Costa Rica: florestas, explorações agrícolas diversificadas e agricultura intensiva. Os declínios mais acentuados foram observados nas florestas e depois na agricultura intensiva (e as espécies que obtiveram sucesso na agricultura intensiva eram frequentemente invasoras). Mas em explorações agrícolas diversificadas, um subconjunto significativo de espécies de aves normalmente encontradas nas florestas, incluindo algumas que são motivo de preocupação para a conservação, na verdade aumentou ao longo do tempo.

‘As aves são uma espécie de proxy que usamos para monitorar a saúde dos ecossistemas. E os pássaros que vemos hoje não são os mesmos que víamos há 18 ou 20 anos. Este artigo realmente documenta esse padrão’, disse Hendershot, pós-doutorado na época desta pesquisa no Departamento de Biologia de Stanford na Escola de Humanidades e Ciências (H&S), no Stanford Center for Conservation Biology (CCB) e no Stanford- Projeto de Capital Natural (NatCap).

Embora esta investigação implique que a agricultura diversificada pode ser fundamental para a biodiversidade, a relação é bidirecional: a biodiversidade é fundamental para a segurança alimentar. Neste caso, isso significa ter uma variedade de tipos de aves alimentando-se de insetos e ajudando a polinizar as culturas.

‘Precisamos de um fluxo constante de polinizadores atendendo às fazendas. Cerca de três quartos das colheitas do mundo requerem polinizadores até certo ponto, e esses 75% são o nosso alimento mais nutritivo – pense em todas as vitaminas e minerais contidos em frutas, nozes e vegetais’, explicou Gretchen Daily, diretora docente da NatCap e CCB, Professor de Ciências Ambientais do Bing em S&S e autor sênior do artigo. ‘Precisamos de um fluxo constante de pássaros, morcegos e outros animais selvagens para ajudar a controlar as pragas: elas suprimem a grande maioria naturalmente. E precisamos de começar a construir proteção contra inundações, purificação de água, armazenamento de carbono e muitos outros benefícios vitais de volta às paisagens agrícolas, muito além do que pode ser alcançado apenas em áreas protegidas.”

Daily também observou que, em termos de produção alimentar, as explorações agrícolas diversificadas não têm necessariamente um rendimento inferior ao da agricultura intensiva. ‘Esta é uma suposição recente que está sendo derrubada’, disse ela. Com o tempo, Hendershot disse: ‘Afastei-me do modelo de conservação de fortaleza, que se concentrava mais na criação de áreas protegidas separadas das atividades humanas, e vejo cada vez mais quanto potencial existe fora das florestas. As florestas são fundamentais – precisamos delas, é claro. Mas, além disso, fico sempre surpreso com a importância da gestão de uma fazenda para a biodiversidade.’

‘Acreditamos que as descobertas da nossa investigação são novas para a ciência, mas, de certa forma, apenas confirmam o que as comunidades indígenas em todo o mundo já sabem há muito tempo, que é que os humanos podem e devem ter relações recíprocas com o resto do mundo e com a comunidade ecológica local da qual fazem parte’, disse Takaishi Fukami, professor de biologia em H&S e de ciência do sistema terrestre na Escola de Sustentabilidade Stanford Doerr e coautor do artigo.

Nas décadas de 1980 e 1990, a desflorestação ocorria na Costa Rica ao ritmo mais rápido alguma vez visto à escala nacional. Então, eles deram a volta por cima – tornando-se um renomado modelo de sucesso. Ao estabelecer o primeiro programa mundial de pagamento por serviços ecossistémicos (PSA), a Costa Rica inverteu esta tendência: hoje, as florestas cobrem quase 60% das suas terras, contra 40% em 1987. O país pretende atualmente duplicar a quantidade de floresta protegida em apenas alguns anos. No seu programa de PSA existente, qualquer proprietário de terras pode receber dinheiro para reflorestar mesmo pequenas partes das suas terras. Agora, o governo também está a trabalhar num novo programa de PSA para incentivar os agricultores a adoptarem melhores práticas de gestão.

Nicholas Hendershot foi pesquisador de pós-doutorado no Center for Conservation Biology de Stanford e agora é ecologista florestal na The Nature Conservancy-California. Gretchen Daily também é pesquisadora sênior do Instituto Stanford Woods para o Meio Ambiente. Outros coautores do artigo são Alejandra Echeverri, cientista sênior do Projeto Capital Natural, Luke Frishkoff, da Universidade do Texas em Arlington, e o proeminente ornitólogo costarriquenho Jim Zook.”

Será que após ler a publicação da Universidade de Stanford ‘revisada por pares’, o leitor não percebe que o Brasil está sempre na contramão da história. Nos países de sucesso o produtor é incentivado financeiramente quando preserva as florestas, como é o caso dos EUA e na Costa Rica. No nosso país ocorre o inverso, o produtor é obrigado por Lei a preservar e ainda recebe o encargo de proteger às suas próprias custas a área preservada. A sensação que se tem é que as nossas autoridades querem recriar a fracassada “Utopia” de Thomas More.

“Thomas More era um jovem arrogante, e não se tornou mais humilde com a idade” – Deborah Harkness, Trilogia das Almas.

*Consultor em Agronegócio

 

 

Deixe uma resposta